Estrada da Graciosa

Estrada da Graciosa - Subida das Gurias na Neblina

Serra da Graciosa

Estrada da Graciosa. Assim é conhecida a PR-410, um trajeto de 28 km, no meio da floresta, que atravessa a Serra do Mar. Ou seja, essa estrada, originada a partir de uma trilha indígena, foi construída para ligar a parte alta da serra à faixa litorânea e faz parte de uma paisagem natural deslumbrante, formada por planície costeira, vales e planalto. Portanto, de grande importância histórica, foi a primeira estrada construída no estado do Paraná, inaugurada em 1873.

Trilha Indígena

Contudo, até a construção da estrada, a única forma de chegar ao planalto era por trilhas escorregadias, pavimentadas com pedras retiradas dos rios. Dessa forma, essas trilhas foram construídas pelos povos indígenas que habitavam a região, no período pré-colonial, e precisavam transitar entre a planície litorânea e o planalto de forma orientada, por dentro da mata fechada, em busca de alimentos. Logo, apesar da dificuldade de locomoção, o planalto oferecia um grande atrativo: o pinhão.

Caminhos da Estrada da Graciosa no trecho original ou estrada velha da Graciosa.
Estrada Original da Graciosa. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Três Trilhas: 

Assim, as comunidades indígenas se movimentavam pela serra em busca de alimentos. Caçavam e colhiam frutas das árvores. Da mesma forma, descobriram que no planalto havia um outro tipo de mata, que oferecia um fruto  (ou semente) comestível diferente e muito nutritivo. Afinal, a Mata de Araucárias recobria o planalto em toda a sua extensão e no outono o solo ficava forrado pelas pinhas e suas sementes. O pinhão é chamado de semente e também de pseudofruto.

Estrada da Graciosa - Caminho do Itupava
Caminho do Itupava – Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Trilhas sinuosas

Em suma, para ter um acesso mais fácil a esse alimento saboroso que agradou seus paladares, construíram essas trilhas de acesso, com cerca de 3 metros de largura, e fizeram um pavimento rústico. Porém, a subida era extenuante, e na tentativa de diminuir as dificuldades da escalada, outras trilhas foram sendo construídas. Desse modo, as mais íngremes eram mais rápidas, a mais longa levava mais tempo, mas era um trajeto mais fácil de ser percorrido.

Três Caminhos

Logo depois, no período pós-colonial essas trilhas receberam o nome de: Caminho do Itupava; Caminho da Graciosa e Caminho do Arraial. A Estrada da Graciosa foi originada a partir da trilha da Graciosa, que era o caminho mais longo, mas também o menos íngreme. Assim, a trilha do Arraial acessa o litoral através de São José dos Pinhais, e a trilha de Itupava faz o percurso de Morretes até o Centro Cívico, nas margens do Rio Belém, ponto onde mais tarde foi construído o Passeio Público. Bem como, esse era o caminho usado pelos Tropeiros, que se hospedavam nas imediações.

Estrada da Graciosa ( Acervo do Instituto Geográfico do Paraná )

Portal da Estrada da Graciosa

Tanto quanto estreita e sinuosa, a Estrada da Graciosa está geralmente envolta por uma espessa neblina, sendo que na maior parte do trajeto, adornado com hortênsias nas suas laterais, pode ser apreciado parte de seu pavimento original. Igualmente, para ecessá-la é preciso passar por um portal, com arquitetura típica das missões jesuítas, localizado na cidade de Quatro Barras, e seguir caminho por dentro da Mata Atlântica até desembocar em uma pitoresca cidadezinha histórica, chamada Morretes.

Portal de acesso à PR 410 - Estrada da Graciosa
Portal de acesso à PR 410 – Vou de Bike e Salto Alto – Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Patrimônio da Humanidade

Agora, tombada pela Unesco como patrimônio da humanidade, a Estrada da Graciosa tem cheiro de ar puro, barulho de pássaros cantando e de água que escorre. É um mosaico de cores em tons fortes, que transborda beleza em toda sua extensão e funciona como uma “rampa” para chegar ao Planalto Curitibano, onde está situada a capital do estado, em uma altitude acima de 900 metros, em relação ao nível do mar. 

Estrada da Graciosa
Parada do morro 7 Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Mirantes da Estrada da Graciosa

Em seguida, a cada aproximadamente 4 km de percurso encontram-se estruturas equipadas com estacionamento, quiosque, churrasqueiras e sanitários, chamados de recantos, que oferecem uma vista espetacular da paisagem do entorno, onde é possível parar para apreciar a beleza panorâmica da serra e fazer lanches com produtos coloniais típicos da região e também adquirir artesanatos, balas de banana, cachaça e mel puro.

 

Estrada da Graciosa - Caminhos Históricos
Mapa Ilustrativo dos Caminhos Históricos da Serra Graciosa

Os 7 Recantos no caminho

Logo depois, as 7 paradas opcionais da Estrada da Graciosa são pontos estratégicos que possibilitam uma visão ampla desse cenário cinematográfico, chamados: Recanto Engenheiro Lacerda; Recanto Rio Cascata; Recanto Grota Funda; Recanto Bela Vista; Recanto Curva Ferradura; Recanto Mãe Catira e Recanto São João Graciosa.

1) Recanto Engenheiro Lacerda: Essa é a primeira parada descendo a serra e apresenta uma visão esplêndida do Pico do Paraná, e das baías de Antonina e Paranaguá.

2) Recanto Rio Cascata: Se encontra ao lado de uma ponte centenária, feita de aço, sobre o Rio Cascata, que deságua nessa altura da estrada. As águas límpidas do rio se derramam sobre o fundo em contraste, proporcionando um espetáculo impactante.

3) Recanto Grota Funda: Está localizado ao lado de uma ponte sobre o rio de mesmo nome, de onde é possível avistar um imenso penhasco, com um abismo de mais de 50 metros.

4) Recanto Bela Vista: A quarta parada da Estrada da Graciosa permite avistar uma parte da cidade portuária de Paranaguá e outro ângulo do Pico Marumbi, a montanha mais alta da Serra do Mar, que pode ser acessada por uma trilha lateral.

5) Recanto Curva Ferradura: Nesse ponto do caminho encontra-se parte do trecho original da trilha que originou a estrada. Aqui é possível caminhar sobre a trilha e conhecer o trabalho de  pavimentação manual, executado para facilitar a escalada até o planalto.

6) Recanto Mãe Catira: Ao lado da ponte sobre o Rio Catira, que apresenta diversas corredeiras e arremessa suas águas num vazio de mais de 70 metros, que caem como uma cortina transparente em duas cachoeiras de pedras negras. 

7) Recanto São João Graciosa: Ponto de encontro de várias nascentes, que se unem e dão origem ao rio Nhundiaquara. Esse rio segue em direção a Morretes, dividindo a cidade em duas partes, acessadas por pontes centenárias, construídas no século XIX.

Nesse ponto da estrada estão as bifurcações e as placas que indicam as direções que o viajante pode seguir: PR-411 direção a Morretes e PR-408 em direção a Antonina.

A Estrada da Graciosa está localizada em uma área de preservação ambiental, onde não é permitido acampar ou pernoitar, mas a partir do último recanto começam a surgir chalés e pequenas pousadas que oferecem hospedagem aos viajantes e também dicas de como explorar a região e tirar melhor proveito das inúmeras trilhas espalhadas que levam para lugares encantadores: montanhas; cachoeiras; nascentes de água; corredeiras e desfiladeiros.

Desde 1967, quando ficou pronta a BR 277, o trânsito de caminhões e veículos de grande porte foi proibido, e um limite de velocidade foi instaurado. A estrada então deixou de escoar mercadorias e se tornou turística. Com uma opção de deslocamento muito mais rápida pela BR, a escolha pelo caminho por dentro da floresta não é uma escolha prática, mas de lazer. É a escolha da beleza e do bem-estar, em detrimento da rapidez. É uma escolha, principalmente, ecológica.

Cicloturismo na Estrada da Graciosa

Portanto, nada mais ecológico do que fazer esse percurso em bicicleta. Bem como, é uma forma prática de ter acesso a lugares incríveis através dessas trilhas ramificadas por dentro da Mata Atlântica. Sem pressa… enchendo os pulmões de ar puro e aproveitando o momento para mergulhar no verde e sentir o silêncio da floresta, quebrado somente pelo som dos pássaros que voam livres e pelo estrondo das corredeiras quando se chocam com os paredões de pedra.

Lobi na RPC TV GLOBO | Caminhos Históricos da Graciosa | Cicloturistas em Curitiba passeando com o Lobi  I Aventura e Natureza na Serra da Graciosa I Pedal Curitiba – Morretes – Via Graciosa I Pedalando na PR 410

Montanhas vistas da Estrada da Graciosa

Afinal, as serras são ondulações naturais do relevo, caracterizadas por grandes desníveis do solo, intercalados, com aspecto serrilhado, essas elevações formam as montanhas, que quando se apresentam em conjunto, formam uma serra. Em suma, suas alturas são variáveis, e os blocos montanhosos podem estar agrupados ou isolados, sendo que o bloco mais alto da cadeia é chamado de Pico. 

Pico do Marumbi

Geralmente, as serras recebem o nome da montanha mais alta do conjunto ao qual pertence. Em razão disso, a porção da Serra do Mar, localizada no território do Paraná, também é chamada de Serra do Marumbi, por abrigar o Pico do Marumbi, com 1.992 metros de altura, a montanha mais alta dos blocos rochosos dessa cadeia. Mas a denominação predominante para designar a porção paranaense é Serra da Graciosa, em referência ao caminho indígena.

Estrada da Graciosa - Conjunto Marumbi
Conjunto Marumbi. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Serra do Mar e a Estrada da Graciosa

Sob o mesmo ponto de vista, essa extensa cadeia montanhosa costeira começa no estado do Espírito Santo e termina em Santa Catarina, acompanha todo o litoral brasileiro e está recoberta por uma vegetação espessa. Porém, na porção paranaense se apresenta em 8 blocos rochosos, todos isolados, sendo que a cobertura vegetal da Serra do Mar é uma vegetação heterogênea, típica desse bioma. 

Mata Atlântica

Contudo, é um tipo de vegetação que ocorre somente no Brasil, Paraguai e Argentina, típica de países tropicais e subtropicais, reveste as regiões costeiras e seu entorno. Todavia, como o nome já diz, é uma mata nativa das regiões às margens do Oceano Atlântico. Portanto, essas florestas compõem um bioma extremamente complexo e necessitam de muita chuva para se manter. Estão presentes em toda a costa brasileira e era a vegetação dominante do país até a colonização, a partir de então foi fortemente devastada.

Montanhas da Mata Atlântica. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Montanhas da Mata Atlântica. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Maior trecho contínuo na Estrada da Graciosa

Atualmente, restam apenas 100 mil km de mata nativa no Brasil, e a maior faixa remanescente se concentra no território do Paraná, cerca de 12% do total. Assim, a beleza dessas florestas só pode ser comparada a sua importância: delas dependem o equilíbrio do clima; a quantidade de chuvas e o abastecimento de água da região. Ao passo que, as inúmeras nascentes da serra alimentam as bacias hidrográficas  do planalto e formam os rios da planície litorânea.

Ecossistemas

Além disso, a cobertura vegetal da Mata Atlântica também está associada a outros dois ecossistemas muito importantes: manguezais e restingas. Nesse sentido, ambientes de transição entre os biomas terrestre e aquático, que protegem a costa marinha da erosão e atuam para manter a qualidade da água dos mares e oceanos contra a poluição. Por isso, quando os mangues estão nas proximidades dos rios, protegem suas margens, atuando como um reforço da mata ciliar.

Manguezais e Restingas

Dessa maneira, os Manguezais e Restingas também atuam na absorção do carbono atmosférico e na ciclagem do nitrogênio, oferecendo um ambiente adequado para a desova de muitas espécies animais, como a tartaruga marinha, e ninho para várias aves migratórias na copa de suas árvores. Infelizmente, a maioria das espécies associadas a esse tipo de habitat estão em risco de extinção, devido à destruição do meio ambiente pelo desmatamento desenfreado.

Manguezais e Restingas
Manguezal – Foto: Ciclovivo

Nas margens da Estrada da Graciosa

Assim, esse delicado e importantíssimo ecossistema está presente no planalto, na serra e na planície litorânea. Ao passo que, seu solo é úmido ou lodoso, rico em nutrientes, pobre em oxigênio, e apresenta uma cobertura vegetal peculiar: árvores com raízes aéreas e resistentes a salinidade. Enquanto, essa floresta aquática age como um filtro dos dejetos e poluentes derramados nos mares e rios, mantendo a qualidade da água e também absorvendo o carbono atmosférico e melhorando a qualidade do ar.

Encontro das águas

Logo depois, se formam geralmente em estuários, regiões de encontro das águas do rio com o mar, sendo importantíssimos para toda a cadeia alimentar da zona costeira. Assim também, são Habitat de siris e caranguejos, são importantes economicamente, gerando 70% da produção pesqueira. Desta forma, o Brasil concentra a maior área de manguezais do planeta, 15% do total existente, e a maior parte desses mangues se encontram na Ilha do Mel e na Ilha de Superagui, no litoral paranaense.

Estrada da Graciosa - Restinga, Parque Nacional Superagui em Guaraqueçaba
Restingas Parque Nacional Superagui em Guaraqueçaba/PR

Restinga

Em síntese, os manguezais são um ecossistema de apoio aos mares e rios, e a restinga, por sua vez, tem como  função proteger os manguezais, absorvendo a areia do entorno e permitindo que seu solo permaneça úmido. Logo, sua vegetação é rasteira, formada principalmente por arbustos, mas pode atingir  grandes alturas, como as palmeiras. O solo é arenoso, pobre em nutrientes e salino. Ocorrem apenas nas faixas litorâneas.

Reservatório de Água

Por analogia, a Serra da Graciosa é a Amazônia paranaense. Tal qual, nela encontram-se as nascentes de água que abastecem as bacias hidrográficas do Planalto Curitibano e formam os rios da planície, que banham as cidades litorâneas e correm em direção de sua foz, na baía de Antonina, onde se tingem do azul do céu e seguem até a baía de Paranaguá, para finalmente desaguar no Oceano Atlântico.

Serra do Mar Mananciais. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Serra do Mar Mananciais. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Por último, a maior quantidade de água armazenada abastece a capital e região e, devido a sua absoluta importância, toda a serra e partes da planície litorânea são tombadas como reservas ecológicas e consideradas patrimônio da humanidade, pela UNESCO.

Produção e edição: Ivan Mendes | Texto: Marisol F.  © Lobi Ciclotur

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