Sinalização para Cicloturismo: Um Diálogo Técnico Sobre Padrões e Segurança
Nos últimos anos, o cicloturismo brasileiro tem crescido significativamente, tornando-se uma modalidade turística sustentável e inclusiva. Paralelamente, a qualidade da sinalização para cicloturismo permanece um desafio técnico que requer atenção especial. Portanto, este artigo busca contribuir para o diálogo técnico sobre padrões de sinalização, com base em normas oficiais e experiências internacionais reconhecidas.

Sinalização para Cicloturismo: Os Desafios Técnicos na Prática
A Questão das Cores na Sinalização para Cicloturismo
Uma análise cuidadosa dos documentos técnicos oficiais revela que a cor marrom é adotada no sistema brasileiro de sinalização turística (conforme o Guia Brasileiro de Sinalização Turística), com diretrizes do IPHAN para bens culturais, para identificação de atrativos turísticos e patrimoniais. De fato, como estabelecido no Guia Brasileiro de Sinalização Turística, regulamentado pelo SENATRAN, esta cor está “consagrada na maioria dos países como indicativa de bens turísticos e patrimoniais”.

Da mesma forma, a utilização da cor amarela para sinalização turística de cicloturismo contradiz estas diretrizes oficiais. Ou seja, o amarelo, em vias públicas, segundo as normas do CONTRAN/SENATRAN, deve ser utilizado exclusivamente para situações de risco e advertência. Consequentemente, aplicá-lo para identificação de rotas turísticas compromete a clareza do sistema de sinalização. Em outras palavras, este conflito de cores gera ambiguidade na interpretação da sinalização pelos usuários.
Símbolos Reconhecidos Internacionalmente na Sinalização para Cicloturismo
Ou seja, a comunicação visual eficaz depende de símbolos universalmente reconhecidos. Por isso, é importante destacar que:
- O símbolo universal para bicicletas é claramente estabelecido em padrões internacionais.
- O símbolo reconhecido internacionalmente para caminhantes é uma pessoa caminhando, com ou sem mochila e cajado, sendo que a escolha deve ser testada com usuários e ser compatível com as normas nacionais, e não uma pegada simples.
- Como mencionado no Guia de Sinalização para Cicloturismo no Brasil, “o uso de pictogramas reconhecidos globalmente transcende barreiras linguísticas”.

Infelizmente, em algumas regiões, a sinalização é feita no improviso — o que chamamos, por metáfora, de ‘sinalização de coturno’ —, substituindo padrões técnicos por soluções regionais ou estéticas que confundem os usuários e comprometem a segurança.
Estudos indicam que padrões inconsistentes podem reduzir a compreensão de forma significativa, comprometendo a segurança e a experiência do usuário. Nesse sentido, segundo pesquisas da ADFC de 2023, uma alta porcentagem de cicloturistas internacionais dependem exclusivamente da sinalização para orientação. Portanto, uma sinalização inadequada não apenas confunde, mas também afasta turistas internacionais que representam um gasto médio consideravelmente maior que o de turistas domésticos. Ao passo que, a escolha inadequada de símbolos tem impacto direto na sustentabilidade econômica das rotas de cicloturismo.
Escopo e Competências Normativas
Porém, é fundamental entender as diferentes competências para a sinalização:
- Vias públicas: Regidas pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) e normas do CONTRAN/SENATRAN, utilizando o Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito (MBST).
- Sinalização turística (urbana/rodoviária): Orientada pelo Ministério do Turismo (MTur) via Guia Brasileiro de Sinalização Turística (MBST), com diretrizes do IPHAN para patrimônio cultural.
- Pontos de transição: Exigem compatibilização entre a sinalização da trilha e a da via pública.

Impacto Econômico da Sinalização Inadequada para Cicloturismo
Evasão de Turistas Internacionais por Sinalização Incompreendida
De acordo com estudos do setor, uma parcela significativa dos turistas internacionais evitam destinos com sinalização não padronizada. Além disso, a maioria dos operadores turísticos internacionais citam a sinalização inadequada como fator decisivo na escolha de destinos para seus pacotes de cicloturismo.
Agora, assista ao vídeo para entender a importância do cicloturismo autoguiado.
Sem dúvida, este problema não é apenas técnico, mas tem implicações econômicas significativas. Consequentemente, regiões que adotam padrões não reconhecidos internacionalmente enfrentam risco de percepção negativa, prejudicando não apenas o cicloturismo, mas todo o setor turístico local. Adicionalmente, estudos demonstram que turistas internacionais levam, em média, um tempo de interpretação significativamente maior para símbolos não padronizados, o que pode ser crítico em situações de trânsito.
Riscos de Percepção Negativa de Territórios no Cicloturismo
Por exemplo, a adoção de padrões inconsistentes na sinalização para cicloturismo representa um risco sério de percepção negativa dos territórios. Sendo assim, quando turistas internacionais encontram símbolos não reconhecidos para a modalidade sinalizada (ex.: uso de pegadas onde o trajeto é prioritariamente ciclístico), isso transmite uma imagem de inconsistência com os padrões que afeta negativamente toda a cadeia turística.

Por outro lado, este estigma tem consequências diretas para as comunidades locais. Ou seja, regiões vistas como “pouco acessíveis” enfrentam dificuldades para atrair investimentos, parcerias internacionais e turistas de alto poder aquisitivo. Isto posto, tal situação prejudica exatamente aqueles que mais se dedicam à concepção técnica e ao respeito às normas dos órgãos competentes, como é o caso dos profissionais envolvidos na Rota dos Tropeiros no Parque Vila Velha.
Soluções Técnicas para a Sinalização para Cicloturismo
Referências Internacionais e Lições para o Cicloturismo Brasileiro
O PL 1280/2024, atualmente em tramitação, faz referência ao sucesso da EuroVelo, que “interliga o continente europeu, gerando um impacto econômico substancial. Assim, esses caminhos atravessam todo o continente, totalizando mais de 90 mil quilômetros”. Nessa mesma linha, estudos demonstram que rotas com sinalização padronizada estão associadas a um maior fluxo de turistas internacionais e a um aumento de receita por usuário.

Naturalmente, essas redes internacionais de cicloturismo compartilham características técnicas importantes:
- Padrões de sinalização consistentes e universalmente reconhecidos
- Símbolos específicos para bicicletas, claramente diferenciados de outras modalidades
- Sistema integrado que facilita a navegação para turistas internacionais
Por isso, é fundamental reconhecer que a adaptação desses padrões internacionais ao contexto brasileiro requer atenção especial às particularidades locais. Assim como na Alemanha, onde o Radroutenplaner NRW oferece um mapa interativo com rotas sinalizadas, informações sobre grau de dificuldade e tipo de pavimento, precisamos desenvolver soluções que respeitem tanto os padrões internacionais quanto às especificidades do território brasileiro.

Da mesma forma, é fundamental incluir um percentual de, pelo menos, 30% de peças de reposição para a manutenção da sinalização logo após a implementação da rota. Essa gestão deve ser feita por meio de um plano que inclua:
- Inventário com identificação, georreferenciamento e data de cada placa;
- Inspeções periódicas (ex.: trimestrais no primeiro ano);
- Acordo de Nível de Serviço (SLA) para reposição de placas críticas.
Desse modo, garantimos a continuidade da qualidade da sinalização durante os primeiros meses de operação, quando os índices de dano são mais elevados.
Então, assista ao vídeo para conhecer, na prática, a importância da sinalização para cicloturismo autoguiado.
Propostas para Melhoria da Sinalização para Cicloturismo
Criação de um Comitê Técnico de Sinalização Ciclística
Sugerimos a criação de um “Comitê Técnico de Sinalização Ciclística” com representantes de todos os stakeholders. A composição deve incluir poder público (turismo, trânsito, meio ambiente), operadores de rotas, guias e a comunidade técnica, com um mandato claro para deliberações, registro público de decisões e revisões anuais. Logo, este comitê poderia:
- Revisar a sinalização em coordenação com SENATRAN e IPHAN.
- Desenvolver diretrizes técnicas claras para a sinalização de cicloturismo.
- Estabelecer critérios objetivos para avaliação da qualidade da sinalização, incluindo um projeto piloto em trecho definido com indicadores-chave de desempenho (KPIs) como fluxo de usuários, incidentes de segurança e custos de manutenção.

A sinalização é uma questão de segurança e acessibilidade, e não de opinião ou gosto pessoal. Consequentemente, a melhor abordagem é baseada em evidências técnicas e na experiência internacional consolidada. Por exemplo, as diretrizes do SENATRAN estabelecem claramente que a sinalização deve “transmitir mensagens de fácil compreensão” e ser “precisa e confiável”, e o uso de símbolos não padronizados compromete essa clareza.
Diretrizes Técnicas de Acessibilidade, Materiais e Hierarquia
Sob o mesmo ponto de vista, para garantir a eficácia, a sinalização deve seguir regras operacionais claras:
- Cores: Marrom para atrativos/serviços turísticos em vias públicas; Amarelo restrito à sinalização de advertência.
- Hierarquia Visual: A ordem de leitura deve ser: destino principal > direção (seta) > distância > informação complementar (como altimetria, quando relevante e legível).
- Diferenciação: Distinguir modalidades (bike, caminhada) pelo pictograma principal, podendo usar elementos secundários como uma moldura ou faixa colorida.
- Acessibilidade (ABNT NBR 9050): Garantir contraste mínimo entre texto e fundo, usar tipografia sem serifa, dimensionar letras conforme a velocidade de aproximação e adotar linguagem simples e bilinguismo (PT/EN) em pontos-chave.
- Materiais e Desempenho: Especificar materiais com base no desempenho, como classes de retrorrefletividade adequadas ao ambiente (urbano/rural), chapas e filmes com proteção UV e fixadores antivandalismo.

Integração de Atrativos Turísticos e Recursos Digitais
Assim como, é importante incluir informações sobre os atrativos também na placa diretório, conforme já abordado em documentos técnicos. Ou seja, vale destacar que ícones para ilustrar os atrativos são de rápida leitura e compreendidos facilmente por pessoas que não falam português. Em pontos estratégicos, o bilinguismo (Português/Inglês) é fundamental.

Agora, quando o atrativo estiver fora da rota principal, é fundamental informar a direção e a distância, e, se possível, indicar também a altimetria. Adicionalmente, a integração digital fortalece a experiência: a identificação e a quilometragem das rotas nas placas devem espelhar os dados oficiais (GPX/GeoJSON) disponíveis para download. Tal qual, o uso de QR Codes que levam a páginas leves, multilíngues, com mapas e alertas, é uma solução de baixo custo e alto impacto. Portanto, essa integração enriquece a experiência do cicloturista sem comprometer a clareza da sinalização direcional.
Conclusão: Rumo a uma Sinalização Mais Segura e Acessível
Em conclusão, a sinalização para cicloturismo desempenha papel fundamental na segurança e na experiência do usuário. Aliás, como mencionado em documentos técnicos oficiais, “vários são os fatores que podem consumir desnecessariamente o tempo, a atenção e a energia do turista, suprimindo-lhe preciosos momentos de contato com o ambiente visitado”.

Um Chamado à Colaboração e ao Profissionalismo
Então, como profissionais envolvidos no setor, convidamos todos os interessados a contribuírem para este diálogo técnico. Ou seja, o objetivo comum é fortalecer o Brasil como destino de cicloturismo, qualificado, seguro e acessível. Consequentemente, devemos promover um turismo sustentável que gere renda para a população e contribua para a conservação de nossos patrimônios naturais e culturais. Ao mesmo tempo, é essencial reconhecer que cada região tem suas particularidades, e as soluções precisam ser adaptadas com cuidado técnico.

Por fim, convidamos você a conhecer o Guia de Sinalização para Cicloturismo no Brasil e a contribuir com este importante diálogo técnico. Logo, juntos, podemos construir um sistema de sinalização que priorize a segurança, a clareza e o profissionalismo, beneficiando ciclistas e comunidades locais em todo o país. Finalmente, lembramos que a qualidade da sinalização é um reflexo do compromisso com a segurança e a experiência do usuário, elementos fundamentais para o desenvolvimento sustentável do cicloturismo brasileiro.
Principais Referências Normativas:
- Brasil. Ministério do Turismo. Guia Brasileiro de Sinalização Turística.
- Brasil. SENATRAN/CONTRAN. Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito (MBST), Volumes I, II, IV e VII (Sinalização Cicloviária).
- Brasil. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Diretrizes para sinalização patrimonial.
- Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). NBR 9050: Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
Horizontes a perder de vista, mas sem se perder no caminho.
Texto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur