Lançada há poucos meses atrás, a Sense Activ 2018 chegou até nós para um desafio duplo. Como se comportaria uma bike idealizada para ser urbana frente às expectativas ofertadas pelas experiências cicloturísticas? E qual caminho oferecia as condições para avaliar sua performance em um só rolê? Escolhemos a afamada e linda Estrada da Graciosa para isto, com direito ao pleonasmo.
Porto de Cima Foto: Therbio Felipe |
Minha paixão absoluta pelo cicloturismo já é notória, muitos sabem, mas o que nunca havia tentado ainda era realizar um trecho de cicloviagem usando uma bicicleta que não fosse uma mountain bike. A marca nacional Sense obsequiou-me um exemplar do modelo para que eu pudesse leva-la aos limites, pelo menos os meus.
Esclarecendo, o setup da Sense Activ 2018 oferece uma posição pouco agressiva para o pedal sem perder em velocidade e destreza. Como não fizemos customização, pedalei usando a bike como veio de fábrica, sem alterar configurações, apenas acresci meu grantour (bolsa de guidão) para carregar poucas tralhas.
Pedreira em Quatro Barras. Foto.: Therbio Felipe |
Em tempo, a Sense Activ 2018 tem quadro bastante rígido, 100% de alumínio 6061, com tubos hidroformados, portanto, confortável. Novo grupo Shimano Altus 2018 27v e freios hidráulicos Shimano muito espertos. As rodas 700x38C, aros Vzan Vnine e os pneus da Chaoyang Krestel formam um conjunto quase incomparável quando se trata de bikes desta categoria e proposta disponíveis no mercado brasileiro, hoje.
Após pedalar por um mês em terrenos asfálticos onde vivo, em Santa Catarina, busquei contemplar as belezas da Serra do Mar pedalando na companhia de um grande amigo, Ivan Mendes, proprietário da Lobi Cicloturismo, por toda a extensão da maravilhosa Estrada da Graciosa, a Rodovia PR-410. Para somar, pedalar através da história em um dos trechos mais preservados daqueles fragmentos de Mata Atlântica do país, sem dúvida, é conteúdo que todo cicloturista respeita, admira e curte. Um mergulho a pedal pela história e cultura, não só do querido estado paranaense, mas do país.
Sabia, de antemão, que tomaríamos um trecho de asfalto saindo de Curitiba sentido Quatro Barras. A partir deste ponto, haveria a possibilidade de seguir pelo traçado original da referida estrada, deixando o asfalto de lado e aceitando o caminho de terra e pedras soltas na companhia da algazarra das maritacas e da correria das saracuras, sob o olhar onipresente das gralhas-azuis.
Ponte dos Arcos na Estrada Antiga da Graciosa. Foto.: Therbio Felipe |
As hortênsias estavam floridas, conferindo mais azul ao rolê realizado sob ameaça das tempestades de verão. Uma parada sugerida pelo Ivan conferiu um apelo visual de tirar o fôlego, a fim de me apresentar um lago numa unidade particular de conservação, que visto do alto, parecia um espelho entre as árvores.
Voltando à estrada, tive a oportunidade de confirmar que pedalar sobre pedra solta, lama e terra com rodas 700C e sem suspensão, acrescentaria mais um diferencial neste rolê, pois estava acostumado desde sempre ao jeito todo-terreno das mountain bikes. Neste momento, o conforto desapareceu, dando lugar ao cuidado para não comprar um terreno ou danificar a Activ.
Antiga rota aberta pelos pioneiros tropeiros para chegar ao litoral do estado, passando pelas igualmente históricas Morretes e Antonina, em meados do Século XVIII, hoje a Estrada da Graciosa é um refúgio da vida urbana em um trecho cultural de razoável facilidade, que em nada perde em beleza para destinações já consagradas pelo cicloturismo. Não esquecendo: a Graciosa não é uma Serra, e sim, um passo entre a Serra da Farinha Seca e a Serra do Ibitiraquire.
Início do Trecho da Estrada Original da Graciosa. Self. Therbio Felipe |
Apesar dos meus 90kg, as rodas (aros, pneus e raiação) suportaram a exigência sem constrangimento. Para aliviar a pressão sobre os punhos, cotovelos e ombros, a cada pouco fazíamos paradas para fotos e tomávamos uma garapa a fim de observar a paisagem ao redor dos sete recantos ao longo da Graciosa, nos quais existem comércios de alimentos e bebidas, banheiros e churrasqueiras, além da vista incomparável.
Estrada da Graciosa Foto: Ivan Mendes |
Se olhávamos para baixo, lá estavam o litoral e as cidades que o margeiam. Olhando para cima, a imponência dos picos, como o Morro do Sete, alusivo à fenda na crista que remete ao numeral.
Chegando praticamente ao nível do mar, seguimos em direção a bela Morretes pelo asfalto, sendo acompanhados por um verde exuberante, rios e pequenos balneários à direita. Sugere-se atenção redobrada neste trecho por conta da insuficiência de acostamento, por vezes cheio de buracos ou inexistente.
Logo após o vilarejo de Porto de Cima, a reta final do percurso, já dentro do município de Morretes, oferece à vista a imagem da Igreja de São Benedito quase que dizendo aos pedalantes para não desistirem. Dali ao centro histórico, comercial e gastronômico margeando o rio Nhundiaquara, que nasce lá no Parque Estadual Pico do Marumbi, é bem pertinho.
Estrada da Graciosa. Self: Therbio Felipe |
Morretes é um charme e o seu povo é muito simples e hospitaleiro, tudo o que um cicloturista gosta. Desça da bike e aproveite para se banhar no rio de águas transparentes correndo sobre seixos antes de se deleitar com pratos como o Barreado ou as porções de peixe fritinho na hora. Passeie pelas ruas antigas e vislumbre o artesanato e o casario desta cidadezinha que já foi chamada de Nossa Senhora do Porto e Menino Deus dos Três Morretes.
Depois de saborear a boa cozinha do restaurante Manacá da Serra, tomamos o rumo da estação de trem da cidade para regressar a Curitiba. A Serra Verde Express leva as bikes muito bem acondicionadas em um vagão próprio, sem riscos para as mesmas.
A Sense Activ 2018 contemplou-me com uma experiência super bacana, ainda que nas próximas semanas passe por uma customização especial, em acordo com a marca, para ajusta-la mais ainda à experiência cicloturística.
Quer saber mais?
Acesse:
Sense Activ 2018
Restaurante Manacá da Serra
Texto: Therbio Felipe M. Cezar
Fotos: Therbio Felipe e Ivan Mendes