Foto: Zama |
Se fosse por falta de “conselhos” jamais teria feito este pedal. A conspiração contrária é tema incisivo quando o assunto é pedalar sobre os campos e montanhas do Quiriri. E quando digo conselhos são poucos os que te dão um tapinha nas costas e sussurram: vai pedalar no Quiriri, vale a pena! Em contrapartida quando você se defronta com os comentários da cautelosa magistratura dos “diplomados em bicicleta” a sensação é sempre aquela de postergar ou até mesmo abandonar a idéia e assim foi até me cansar de ouvir um “quem sabe no futuro”, por muitas vezes até mesmo proliferadas da minha boca ou redigido pelos meus dedos.
Mas a loucura é um sentimento que acompanha fielmente o mundo do ciclismo e faz com que você escute apenas a voz do coração esperando apenas um sinal pra que faça reascender o desejo semeado no subconsciente. Foi olhando um dia as aventuras do KAMIKAZE DE BIKE que então fiquei surpreso: ele simplesmente no dia mais frio do ano, resolveu subir os mais de 1400 metros do ponto mais alto acessível e familiar do percurso. Aquilo pareceu veloz e contundente e ao mesmo tempo confuso: como pode escalar um local que muitos riders abominam só de escutar o nome, como se fosse um treino a mais da jornada? Foi então que comecei a duvidar e apostar contrariamente a todos aqueles conselhos contundentes e pavorosos que no fundo querem dizer: não faça, você não consegue… vai desistir na primeira lomba de responsa…
E porque digo concretizou? Foi a Muraski junto com o Daniel Donatello que insistiram varias vezes para que eu os acompanhasse nesta aventura e simplesmente me acomodei diante da magistratura. Uma pena. Sim eu gostaria que os padrinhos da ideia me acompanhasse, mas infelizmente eles tinham um compromisso na paradisíaca Corupá e de qualquer forma mais do que nunca não auferia considerável moral para exigir isto deles, mas conversamos muito a respeito e projetos se criaram para um futuro proximo em um momento particular e especial que certamente existirá no futuro, mesmo porque, como diria o japa, já estávamos com o sangue nos olhos e o Quiriri teria que acontecer de qualquer forma naquele final de semana.
O inicio era realmente inspirador e pelo caminho os closes panorâmicos davam um sabor ainda mais aguçado a aventura, tendo como ápices principalmente a presença dos pinheiros do Paraná, trechos de matas nativas ao fundo e muitas paisagens interioranas que amplificam o desejo de ficar por horas e horas apenas observando tudo aquilo. Tivemos uma pequena mudança nos planos, que até nos deu um pouco mais de trabalho: ao chegar em uma das fazendas de propriedade de uma empresa que explora o local para comercio de produtos derivados da estratificação da madeira, o vigia disse muito educadamente que só poderia continuar com autorização e que até seria possível pedir ali por telefone, mas quem disse que tínhamos sinal suficiente para fazer a ligação. O mesmo até nos ajudou informando a existência uma estrada que acompanhava paralelamente a propriedade e que poderíamos também por ela chegar ao objetivo. Retornamos uns setecentos metros do ponto que estávamos e tomamos a bifurcação.
Foto: Zama |
O desejo era sempre aquele de perseguir obsessivamente escalar em cima da bicicleta, mas dois fatores impediam isto: o primeiro no que diz respeito ao equilíbrio da própria bicicleta que em situações mais anguladas e com o selim alto, propiciam efetivamente a queda. O fato de estar com o clip faz com que a preocupação se torne mais aguda e frequente. O segundo evidentemente está relacionado ao próprio cansaço. Depois de horas e horas sempre subindo, chega um momento que o corpo lhe impõe o próprio limite e adicionado ao problema já mencionado de estar com os pés travados no pedal a sensação toma uma magnitude diferente. Ninguém quer sofrer um acidente naquela altura ou ainda trazer problemas para todo o grupo do pedal. Os kamikazes Wellysson e Deodoro (pai) fizeram quase todas as escaladas pedalando, pois além de ter uma bicicleta Full Suspension apropriada para o deleite, apresentavam excelente condicionamento fisico e conhecimento de causa.
A emoção aumenta com nosso terceiro desafio: encontrar uma estrada que nos leve ao trajeto principal do Quiriri. Sim porque chegou-se em um momento que o trilho acabou e a expedição começou a girar por horas e horas em busca de uma saída. Devemos agradecer muito a Garmin por fazer um equipamento auxiliador ao biker aventureiro. Em nenhum momento nos sentimos perdido, mesmo porque o Wellyson tinha um azimute a ser seguido. Mesmo com a estrada interrompida sabíamos qual a direção a ser tomada. Iniciamos então uma varredura pelo local afim de achar uma saída para a situação e numa destas acabamos nos deparando com dois fatos inusitados: o primeiro deles é que sem querer achamos o marco pioneiro histórico da divisa dos dois Estados (Paraná-Santa Catarina) e o segundo (confirmando as vozes do inicio do pedal) pegadas de onça pelo caminho.
O Kamikaze se preocupava principalmente com a Patricia: esta menina, terceiro lugar em competição de Mountain Bike recente, foi guerreira o tempo inteiro. Evidente como qualquer outro da expedição sentiu o cansaço que o desafio exigia, mas em nenhum momento esmoreceu e como nós foi capaz de entender no final a recompensa de toda aquela jornada vivida. Sinais evidentes também compartilhados pelo Sandro e pelo Ale que ajudaram fazer da nossa ciclo-aventura a melhor de todas.
Por zama BIKE © 2016
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Foto: Zama |
O conjunto de montanhas que compreende o Quiriri possui cerca de 30 cumes, cuja altura varia entre 1.300 a 1.580 metros. Dessas elevações é possível enxergar o mar e algumas cidades do norte do estado, como Joinville e as montanhas da Serra Dona Francisca, Garuva, Itapoá, São Francisco do Sul e a Baía da Babitonga, sempre em dias de tempo bom.
Quiriri na língua tupi guarani significa “Silêncio Noturno”, e contam os antigos que ali era morada de índios e bugres. Os carroceiros que ali passavam sentido Curitiba escondiam seu ouro nas grutas do Quiriri para não serem assaltados pelos índios, pois as montanhas possuem várias cavernas, e também nascentes de água cristalina.
O local faz parte de uma Área de Proteção Ambiental, que compreende os municípios de Campo Alegre, Garuva e Joinville. Há também uma casa disponível para aluguel por dia. O acesso ao topo das montanhas se dá a 56 km do centro da cidade, por estrada não pavimentada.
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Respostas de 2
PARABÉNS a vocês por esta grande aventura Zama.
Incentivar a prática ao MTB em regiões assim é prazeroso demais. Parabéns ao Lobi por promover esta saudavel Cultura.