Cicloviajantes, este livro fala sobre nós

Nunca pensei que, ao ler uma obra, eu me descobrisse incluído pelo autor.

Foto Thiago Fantinatti

Jamais imaginei que quem o escreveu falaria tão bem de mim a ponto de convocar minhas angústias, meus sonhos e esperanças enquanto a leitura transcorresse.

Não, não espere deste um livro cuja primeira e a última página se encontram naquele espaço amorfo chamado ‘lugar comum’. Tampouco espere que o autor recorra a uma escrita rebuscada, muito pensada e articulada, pouco natural.

Não creia, também, que haverá uma conclusão ao final da escrita, pois informo de antemão que o autor do livro continua lá, em alguma curva, subida ou abraço de boas-vindas. Como regressar de uma experiência destas? Como dar tal experiência como concluída?

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Este livro, mais que tudo, é um convite ao questionamento e à companhia da dúvida. Explico-me.

O que resume, dentro do possível, nossa experiência de conhecer é o ato, comum e inexorável, de questionar. A certeza, por sua vez, é uma ilusão, porquanto é efêmera. Deveríamos ter medo da certeza, não da dúvida. Vivemos na companhia da pergunta, não na solidão da resposta.

E, pasmem, há ainda pessoas que têm medo de ter medo. Qual atitude nos tornaria mais humanos do que admitir que tememos? Entendo que é o que nos mantém vivos.


Não há fórmulas que correspondam, uniformemente, às situações vividas por indivíduos diferentes. Como responderíamos, cada um de nós, às questões: “e agora, devo seguir ou permanecer?”, “qual caminho devo tomar?”, “tenho pouca água, será que é o suficiente?”, “o que ou quem encontrarei pelo caminho?”, “e se eu desistir, como será?”, “e se eu não desistir, será que sobreviverei?”.

Certamente, nossas respostas não seriam as mesmas. Talvez, elas nem mesmo existissem. Mais uma vez, a solidão da resposta.

Outra observação com a qual este livro corrobora é a de que não existe um mundo senão aquele que construímos com os outros.

O encontro entre os diferentes faz nascer um mundo e é nele que a sensação de estarmos vivos pode ser mais linda ou menos interessante. E neste mundo, futuros leitores do Thiago, tão importante é a chegada quanto a partida; a necessidade que temos de ser acolhidos é tal qual a necessidade dos outros de acolher-nos.

Foto Thiago Fantinatti

Afinal, somos todos viajantes.

Thiago Fantinatti, autor do livro e coadjuvante do Caminho, respondeu a todas as perguntas com outras perguntas. Somente as pessoas realmente humildes não precisam de certezas.

Thiago pode ter hesitado em decidir pelo caminho ‘a’ ou ‘b’ em algum momento, porém não hesitou em questionar-se, em colocar-se à prova da dúvida, em verificar suas capacidades e acreditar no improvável.

Por fim, das mais importantes sugestões que o livro faz, uma delas me arrebata. Desde que assumi minha porção cicloturista, décadas atrás, afirmo que ‘todo caminho leva a algum lugar e a alguém’.

Para a grande maioria das pessoas esta frase se debruça sobre o óbvio.

Porém, afirmo que em busca do extraordinário esquecemo-nos de dar importância ao óbvio, e assim, criamos lacunas em nossa existência jamais ocupadas por coisa alguma.

Acredito que nossos caminhos não nos levam a qualquer lugar e a qualquer pessoa. Ao contrário, nos levam às pessoas com as quais precisamos realizar a experiência de gerar um mundo, por vezes, durante poucos minutos (eu diria, eternos), nos lugares mais apropriados para que tal fenômeno aconteça, seja uma alameda, um colina, o borde de um riacho, um posto de gasolina, um hostel, ou até na cerca daquela casa que paramos para, exaltando a dúvida, pedir uma orientação ou um revigorante e cheio de vida copo de água.

Os caminhos trilhados por Thiago levaram ao sonho de encontrar nos lugares mais impensáveis, as melhores pessoas.

Sozinhos não construímos mundo algum.

Foto Thiago Fantinatti

Este livro é feito, página a página, por personagens de mundos construídos com Thiago. E ele os carregou por nós em seus alforjes até aqui, para que pudéssemos construir um mundo juntos.

É claro que Thiago não sabia, ao primeiro dia de viagem, que levava também na bagagem a mim, a você e ainda a um sem-número de companheiros que viria a conhecer anos mais tarde graças aos mundos criados por nossos encontros.

Se assim não fosse, eu não estaria humildemente prefaciando esta obra.

por Therbio Felipe M. Cezar, o Professor Sobre Rodas

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Lobi Ciclotur
Oi, eu sou o LOBi! Estou aqui para aliar natureza e caminhos alternativos para você e sua família descobrirem o mundo do ponto de vista da bicicleta.

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