Cicloturismo no Brasil

Desenvolvendo o Cicloturismo Profissional

Para desenvolver circuitos de cicloturismo no Brasil é necessário primeiramente a elaboração de um projeto profissional. Nesse sentido, são indispensáveis elementos primordiais, tais como a participação de especialistas em ciclismo e também em turismo.

 

Circuito de Cicloturismo no Parque Vila Velha. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Desenvolvendo o Circuito de Cicloturismo no Parque Vila Velha. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

O Cicloturismo e a pademia

No período da pandemia as vendas de bicicletas aumentaram 54%, sendo que grande parte desses equipamentos são de alta performance e para o lazer, o que representa um investimento considerável em relação ao período pré-pandêmico e demonstra que esse público tem poder aquisitivo e é exigente. 

Consequentemente, o cicloturismo no Brasil tem crescido e o perfil dos praticantes desse tipo de turismo foi ampliado. O país tem um perfil climático favorável, além de muitos atrativos naturais. Sem dúvidas, são fatores capazes de fazer com que o Brasil seja um grande destino de cicloturistas, contribuindo automaticamente para o incremento na chegada de turistas internacionais, que hoje é infinitamente menor do que várias cidades de países europeus, por exemplo. 

Circuito de Cicloturismo no Parque Vila Velha. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

No entanto, para que isso aconteça não é necessário somente o planejamento de ações, mas também que elas sejam bem executadas e, sobretudo, monitoradas no decorrer de sua gestão e operacionalização. Entre essas ações está a criação de circuitos autoguiados, sem os quais a tendência é que continuemos atrasados. Mas, apontamentos feitos por especialistas mostram que é preciso se profissionalizar para estruturar circuitos de cicloturismo no Brasil e gerar experiências e desenvolvimento sustentável aos municípios e comunidades. 

Planejamento até mesmo na divulgação

O profissionalismo no desenvolvimento de circuitos de cicloturismo é uma premissa indispensável. Algo que ocorre de forma até corriqueira são os diversos casos de circuitos que são divulgados de forma precoce, antes de estarem definitivamente prontos para passarem a receber público. Isso cria uma expectativa no cliente/cicloturista e, no fim das contas, gera frustração nele, fazendo com que isso se transforme em reviews negativos. Diante disso, é necessário delinear também a organização da divulgação e não somente o circuito em si.

Circuito de Cicloturismo para todos os gostos. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Sobretudo, é importante frisar que o cicloturista contemporâneo é um cliente exigente e de poder aquisitivo, da mesma forma que é importante pensar que se a oferta é qualificada, o cliente também é. Nesse caso, o nível de exigência do cliente tem que ser acompanhado e suprido por uma oferta de igual equivalência. É um ciclo que é retroalimentado à medida que se desenvolve. 

Contando com a experiência de quem sabe

Por isso é que antes de lançar um circuito de cicloturismo no Brasil, é preciso que ele seja muito bem desenvolvido, de forma profissional, caso contrário ele “já nasce morto”. Portanto, o desenvolvimento de um circuito requer, no mínimo, a experiência de ciclistas que tenham ampla visão dos benefícios proporcionados não somente pela atividade do ciclismo, mas de toda atividade turística envolvida, seja ela turismo rural, turismo de aventura ou ecoturismo.

Desenvolvendo Circuitos de Cicloturismo no Paraná. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

O lado bom é que há no país não somente empresas qualificadas, mas também cicloempresários, que reúnem know-how e são focados no desenvolvimento, capacitação, implantação e gestão de circuitos para cicloturismo autoguiado, cicloaventura e turismo de aventura.

Um produto, sim!

Por isso e por outros fatores é que os circuitos devem ser pensados como um produto, que têm que atender a necessidade do seu público. Certamente o cicloturista se interessa por um “biketour” em uma cidade que ofereça segurança e mobilidade autoguiada, ainda mais se houver uma interligação entre as rotas cicláveis. A premissa aqui é que a população também usufrua de mobilidade. 

Cicloturismo urbano em Curitiba. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Um projeto bem desenvolvido engloba um incremento de receitas, de maneira a se transformar em um motivo a mais para que os cidadãos de pequenos municípios possam garantir seu viver e, desta forma, evita-se o processo de migração para os grandes centros. Se o cidadão aprova o produto turístico, ele também será um vetor de zelo e divulgação. 

A comunidade tem que entender os benefícios para ela

E essa ideia pode ser adaptada especialmente para rotas de cicloturismo em áreas rurais e naturais, afinal é nessas regiões onde se encontram algumas das melhores opções para o desenvolvimento de circuitos atraentes. É lá onde estão alguns fragmentos puros da nossa cultura, cantares, sabores e saberes. Claro que é aconselhável que essas comunidades entendam o porquê de estarem sendo inseridas em um circuito de cicloturismo e que, acima de tudo, saibam de forma clara quais os benefícios que terão.

Produtos Coloniais em pousada na Serra Gaúcha. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Isso tudo tem que fazer parte do planejamento, que como já dito, deve ser o mais profissional possível. Pelo fato de estarmos em um país continental, é preciso ter em mente que temos público aqui mesmo para as rotas de cicloturismo serem promissoras, desde que ofereçam produtos, serviços e atendimento de qualidade. O cicloturismo no Brasil tende a se desenvolver cada vez mais, mas existe uma série de fatores que podem colocar em xeque qualquer possibilidade de sucesso dessa modalidade.

“Desenvolvedores” que pouco sabem

Infelizmente, há muitos “desenvolvedores” que sequer pedalam e mesmo assim vêm tentando implementar rotas de cicloturismo com o intuito meramente de algum tipo de lucro. Alguns servem a políticos em busca de votos, outros querem apenas satisfazer seus próprios egos. Há ainda os que simplesmente confundem, ou não sabem, diferenciar nomenclaturas ao confundirem conceitos básicos, como circuitos de cicloturismo com ciclorrotas, que são coisas distintas.

Sinalização para via calma. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Ciclorrotas não são caminhos turísticos, pois não são rotas recreativas que unem dois pontos de interesse, tampouco são uma nova forma de falar sobre caminhos rurais que objetivam o cicloturismo. Pelo contrário, são apenas traçados compartilháveis onde o ciclista está na via por direito, valendo-se do traffic calming, que basicamente são ruas nas cidades utilizadas tanto por carros, quanto por bicicletas. Geralmente há sinalização na própria pista identificando o uso compartilhado da via. 

Integração entre comunidade e visitante

Voltando aos “desenvolvedores”, o fato é que muitos não são técnicos e, assim sendo, acabam por “estigmatizar” determinada localidade com produtos malfeitos e, por consequência, fadados ao insucesso. Temos como exemplo disso uma série de eventos de bicicleta, que têm se valido do atraente nome “cicloturismo” para angariar público. 

Sinalização para circuitos de Cicloturismo. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

E isso é um erro. Acontece que nesses casos, na maioria das vezes, não há qualquer tipo de capacitação de territórios, pois são eventos sazonais e, quando muito, dão espaço à comunidade apenas para que ela saia nas fotos. O que um Projeto de Desenvolvimento Profissional e Capacitação de Territórios para o Cicloturismo entrega às comunidades é muito mais do que um evento que começa e termina em um ou dois dias e não integra comunidade e visitante, além de usar dos recursos ambientais e culturais como mera mercadoria, criar insustentabilidades e gerar o fetiche de atividade econômica. Um circuito bem desenvolvido é para sempre, um evento não!

Planejamento é tudo!

Por isso é importante enaltecer uma das etapas mais importantes e primordiais de todo processo: o planejamento. Ele é a base de tudo, não se pode parar de planejar nem mesmo quando o projeto está quase pronto. Um projeto é feito de etapas e cada uma exige organização, com o devido respeito a cada uma delas. Um exemplo bem claro disso é que depois de tudo pronto, é necessário que tudo que foi planejado chegue ao público. Para isso, mais uma vez é necessário planejar. 

Foco no bem-estar do Cicloturista. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Foco no cicloturista 

No caso de um projeto de circuito para o cicloturismo o foco deve ser o turista, o ideal é que seja desenvolvida uma rota na qual hajam outros atrativos, que possam contemplar as famílias. Isso deve ser pensado para que o que foi projetado seja vitalício e não temporário. É necessário que o projeto contemple vários fatores, além dos atrativos é ideal também que seja utilizado o máximo de serviços turísticos: agências e operadoras, transportadoras turísticas, hospedagens, restaurantes, entre outros.

Barragem do Rio dos Touros em Bom Jesus/RS: Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Pode-se incluir ainda nessa relação as estruturas de artefatos artesanais, serviços complementares de entretenimento e lazer, museus, vinícolas, armazéns, represas, enfim. Uma ampla oferta de mecanismos socioculturais, econômicos e ambientais que são úteis tanto para quem pedala, quanto para quem vive nestas localidades.

O caminho é a própria experiência

O cicloturismo pode e deve ser um vetor para conectar tudo isso: atrativos, serviços, comunidade, poder público. Indo além, outro aspecto a ser considerado é que a atividade do cicloturismo tem como principal característica a possibilidade de se conhecer esses diversos destinos e atrativos turísticos em uma mesma viagem ou passeio, então considera-se o caminho a ser percorrido como a própria experiência turística. Situação que reforça ainda mais a importância da interconectividade das diversas exterioridades envolvidas.

Buraco do Padre nos Campos Gerais do Paraná: Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Após ter todos os pontos interconectados, é necessário saber a que público será direcionada a divulgação. Esse é um dos pontos mais importantes de todo o processo, pois será um dos testes para que se saiba de fato se tudo que foi planejado anteriormente atingirá o público-alvo a que está destinado. A comunicação direcionada é um balizador primordial para que o trabalho feito tenha o resultado esperado.

Imersão no atrativo visitado

O cicloturista busca principalmente uma experiência de imersão no local visitado, viver o destino, conhecer em um ritmo mais lento as pessoas, sua cultura, sua comida e hospitalidade. A boa comunicação e divulgação efetivas são situações que ajudarão o cicloturista a entender de forma prévia qual o perfil e as características do destino e se a experiência dele for positiva, o resultado esperado, sem dúvidas, terá sido alcançado e a probabilidade de surgir um review positivo e indicações para amigos e familiares será muito maior.

Capela do Tamanduá de 1730 na Rota dos Tropeiros em Balsa Nova no Paraná. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

As cartas estão na mesa

Há de se levar em conta que passamos por um período de pandemia que acelerou a busca por experiências de viagens ao ar livre e por caminhos menos urbanizados e sem aglomerações. O cicloturismo que até então tinha um perfil muito restrito a um público predominantemente masculino entre 25 e 45 anos agora passa a contar com famílias com crianças, grupos com diversidades de gêneros, mulheres e idosos. Grupos que têm buscado viver a experiência de viajar por algum circuito de cicloturismo no Brasil.

Cicloaventura nos Campos Gerais do Paraná: Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Em um país com uma extensão territorial tão grande, com características tão favoráveis, com um perfil de público cada vez mais adepto, deveríamos ter mais Circuitos de Cicloturismo no Brasil. As oportunidades estão batendo à porta, basta atender e fazer o dever de casa da forma correta. Afinal, não requer grandes investimentos.    

Por fim, não adianta de nada toda essa preparação, se os receptores não tiverem a hospitalidade como característica intrínseca.

Por Ivan Mendes e Tiago Piontekievicz © Lobi Ciclotur

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