Rota dos Tropeiros

Rota dos Tropeiros

A princípio, com o início da colonização do território brasileiro, começou também a exploração da terra em busca de minérios. E assim foram chegando os primeiros garimpeiros, e se formando pequenos povoados nas imediações das minas e dos aluviões. Assim na medida que chegavam mais trabalhadores para o garimpo, também aumentava a necessidade de alimentos, vestuário e material de trabalho para suprir suas necessidades. Então, surgia aí a Rota dos Tropeiros.

Ciclista a cavalo na Capela Nossa Senhora da Conceição do Tamanduá de 1730 em São Luiz do Purunã. Foto: Márcio Fernandes © Lobi Ciclotur
Ivan Mendes na Capela Nossa Senhora da Conceição do Tamanduá de 1730 em São Luiz do Purunã. Foto: Márcio Fernandes © Lobi Ciclotur

Comércio da Tropas

Ainda mais, diante dessa demanda as mercadorias que chegavam de navio passaram a circular entre as minas, e um tipo de comércio ambulante se instalou, onde uma rota fixa para levar essas mercadorias foi criada, sendo chamada de rota dos tropeiros. Os vendedores, que vinham de Portugal tentar a sorte aqui, se juntavam em grupos e atravessavam as florestas, viajando em cima de mulas, carregando a carga que seria vendida nos povoados e depois nas feiras que começaram a ser organizadas para esse fim.

Ciclista e cavalo no cicloturismo na Rota dos Tropeiros
Cicloaventura nos Campos Gerais do Paraná.  Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

As Tropas

Assim, as caravanas viajavam longas distâncias, por dentro da mata, entre um povoado e outro, utilizando as trilhas indígenas, que seguiam o curso dos rios, e descansavam em suas margens a cada aproximadamente 50 km. Por viajarem sempre em comitiva, o grupo de animais que eles conduziam passou a ser chamado de tropa, e os condutores de tropeiros. 

Inicialmente eles percorriam as florestas do sudeste e nordeste do Brasil, as primeiras regiões colonizadas, mas a medida que o povoamento foi se espalhando, o Caminho das Tropas também foi se expandindo. Em 1680 os jesuítas chegaram na Serra Gaúcha, e os tropeiros passaram a fazer o percurso entre São Paulo e Rio Grande do Sul, por uma estrada que ficou conhecida como Viamão. E uma nova paisagem, composta de árvores altíssimas, com copas em forma de candelabro, surgiu diante deles.

Copa de araucária na Rota dos Tropeiros
Araucária na Rota dos Tropeiros.  Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Natureza na Rota dos Tropeiros

A viagem continuava sendo exaustiva e as dificuldades da travessia eram as mesmas, mas o cenário bucólico e o clima fresco atenuavam a fadiga e recarregavam suas energias. Agora as trilhas os levavam por um corredor verde, de beleza indescritível, e eles ouviam sons de pássaros que nunca tinham ouvido antes. As árvores ofereciam frutos de sabores que eles não conheciam. E sempre era possível se refrescar nas nascentes de água gelada, encontradas pelo caminho.

Caminho de Itupava

A partir de 1730 a comitiva decidiu encurtar estrada e se aventurar por um atalho, passando pelo Planalto Curitibano e cruzando a Serra do Mar, para chegar até o Porto de Paranaguá, de onde podiam seguir viagem por mar, até a Feira de Sorocaba. Esse trajeto a região sul do país ficou conhecido como rota dos tropeiros. E a trilha utilizada por eles para atravessar a Serra do Mar, foi o Caminho de Itupava.

Caminho do Itupava em Quatro Barras. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Trilha do Itupava serviu como Rota dos Tropeiros. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Caminho das Tropas

No entanto, apesar de o caminho ser mais curto, as dificuldades da travessia eram imensas. E só não desistiram porque estavam acostumados a situações extremas, atravessando grandes distâncias por dentro da mata, em estradinhas de poucos metros de largura, e correndo todo tipo de riscos e perigos. E por isso mesmo continuaram, muitas vezes tendo que pernoitar várias noites no planalto, esperando as chuvas acalmarem e as condições climáticas melhorarem. Para atendê-los, hospedarias foram montadas e um enorme bebedouro foi construído no local onde eles costumavam parar pra descansar. 

A maior parte do Caminho das Tropas não existe mais, pedaços da história do país ficaram soterradas debaixo do progresso, mas o trecho conhecido como rota dos tropeiros, que cruza os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná ainda estão intactos… E podem ser percorridos, em toda a sua beleza!

 

Corredor da Vaca Velha no Rio Grande do Sul. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Corredor da Vaca Velha no Rio Grande do Sul. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Cicloturismo e a Rota dos Tropeiros

E o trajeto fica melhor ainda de ser apreciado, se for, pedalando! O cicloturismo é sempre uma deliciosa opção, que só precisa de um roteiro direcionado que leve o viajante para dentro dessa  linda paisagem natural, única, geralmente envolta em neblina, que só pode ser encontrada no sul do país.

Cicloturismo autoguiado no Parque Vila Velha no Caminho das Tropas. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Cicloturismo autoguiado no Parque Vila Velha no Caminho das Tropas. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Rota dos Tropeiros

Portanto, um convite para passear por bosques de árvores exóticas e corredores de bambus, enfeitados por bromélias, aves de plumagens coloridas, cantando um canto nunca ouvido antes. Um cenário que descansa a mente e enche o coração…. De poesia! Um roteiro que vai contar a história de uma árvore, e de uma linda ave azul, que se tornaram símbolos do Paraná.

Vamos?

Mata das Araucárias

A Mata das Araucárias tem como característica a presença em grande quantidade de uma árvore, muito alta, de caule cilíndrico, chamada araucária ou pinheiro. Esse tipo de vegetação se espalha pelos três planaltos paranaenses, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e se concentra em determinadas áreas, conforme condições de relevo, clima e solo. No Planalto Curitibano esse agrupamento de árvores forma lindos bosques, espalhados pela capital e região de entorno, desde a divisa com a Serra do Mar.

Capão de Araucárias na Serra Gaúcha - Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Capão de Araucárias na Serra Gaúcha – Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

A Araucária na Rota dos Tropeiros

A Araucaria angustifolia, árvore símbolo do Paraná, é uma espécie vegetal característica das Florestas de Araucárias, ecossistema associado a Mata Atlântica, versão subtropical da Floresta Amazônica. Também chamada de Floresta Ombrófila Mista, a Mata de Araucárias faz parte da belíssima e bucólica paisagem natural do sul do Brasil, com raras ocorrências na região sudeste, em forma de pequenos blocos, fragmentados e isolados. 

Araucárias na Serra do Mar do Paraná. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Araucárias na Serra do Mar do Paraná. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Essa mata mista já ocupou 40% do território do Paraná, 30% do território de Santa Catarina e 25% da área total do Rio Grande do Sul. No Planalto Curitibano, na era pré-colonial, elas se apresentavam em bosques espalhados pela região, formando sempre o extrato mais alto da mata, pois necessitam da incidência direta da luz solar.

Florestas Ombrófilas

O termo ombrófila tem origem grega e significa “amigo das chuvas”, o mesmo que pluvial de origem latina, e caracteriza uma formação vegetal cujo desenvolvimento depende de regime de águas pluviais abundantes e constantes. A floresta de araucárias é classificada como mista por encontrarem-se misturadas na mesma mata angiospermas e gimnospermas. As angiospermas são as árvores frutíferas e que apresentam flores. As gimnospermas não florescem e não tem frutos.

Circuito das Araucárias em SC – Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Tropicais ou subtropicais

As florestas ombrófilas também podem ser classificadas quanto ao clima no qual se desenvolvem: tropicais ou subtropicais. As florestas tropicais precisam de chuvas constantes e altas temperaturas. Desta forma, as florestas subtropicais suportam a alternância de períodos de seca e chuva, e invernos rigorosos. Mas ambas precisam, de um solo úmido, com presença de muitos rios e nascentes no seu entorno. No caso da Floresta Amazônica, uma floresta tropical típica, grande parte dela se constitui de floresta aquática, e está associada a um tipo de relevo específico e condições climáticas bastante singulares. 

.Cicloaventura em São Luiz do Purunã no Paraná. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Cicloaventura em São Luiz do Purunã no Paraná. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

A Mata de Araucárias é considerada uma floresta de transição, e toda a sua vegetação é terrestre. Se adapta muito bem ao frio e as grandes altitudes dos planaltos, ao contrário da vegetação da Mata Atlântica, que se desenvolve apenas nos vales das planícies litorâneas e depende de temperaturas mais elevadas. O solo ideal para o seu desenvolvimento é o basáltico, com presença de um alto teor de ferro em sua composição, conferido uma cor avermelhada ou arroxeada a terra. Mas também se desenvolvem bem em solo calcário, como o solo do Planalto Curitibano.

Solo 

Calcário ou argiloso, o solo precisa ser fértil, profundo e bem drenado para sustentar o peso de árvores de grande porte, que alcançam em média 30 metros de altura, podendo chegar até 50 metros, com caule de mais de 2 metros de diâmetro e grande longevidade. A araucária é uma conífera que pode viver até 700 anos, e é de difícil cultivo, se desenvolvendo apenas sob condições específicas de clima, solo e relevo.

Cicloturismo em Quatro Barras/PR. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Coníferas 

Do grupo das gimnospermas, essa árvore com copa em forma de candelabro, é uma espécie dioica, e apresenta árvores masculinas e femininas. A árvore feminina é a araucária, e a árvore masculina é o pinheiro. A polinização ocorre principalmente através do vento, e depois da fecundação da árvore feminina, surgem as pinhas.

Capela N.Sra da Conceição do Tamanduá de 1730 ponto de parada na Rota do Tropeiros. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur
Capela N.Sra da Conceição do Tamanduá de 1730 ponto de parada na Rota do Tropeiros. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Pinhão na Rota dos Tropeiros

A palavra grega gimnosperma significa semente nua. O grupo de plantas conhecido por essa denominação, as coníferas, não oferecem flores ou frutos, apenas sementes. E no caso das araucárias os pinhões são as sementes que, perfeitamente encaixadas umas nas outras, formam uma estrutura radial arredondada, chamada pinha. Comestível e saboroso, o pinhão alimenta a fauna presente nessas florestas, como o papagaio-charão, a gralha-azul e muitas outras espécies.

 

Dep. Goura com o Lobi Ciclotur encontraram uma pinha na trilha. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Gralha-Azul

Símbolo do estado do Paraná junto com o Pinheiro, a Gralha Azul é responsável pela regeneração natural desse tipo de florestas devido ao hábito dessas aves de “estocar” os pinhões para comer fora de época, enterrando-os no solo e nos troncos de árvores caídos pelo chão, promovendo a germinação de novas plantas.

Ave Inteligente

De plumagem azul intenso, com penas negras recobrindo a cabeça, a Gralha Azul (Cyanocorax caeruleus), é uma ave rara e belíssima, extremamente inteligente, que se comunica através de um complexo sistema de sons distintos. Espécie gregária, vive em bandos de até 15 indivíduos, dividido em hierarquias, e constroem seus ninhos de gravetos nas copas das árvores mais altas, para guardarem amorosamente seus filhotes, até que eles estejam prontos para voar.

Espécie endêmica da floresta de araucárias, por encontrar no pinhão a base de sua alimentação e na copa em forma de candelabro das árvores de sua mata o lugar ideal para construir seu ninho, encontram-se praticamente extintas, devido ao desmatamento desenfreado e sem critério, que as deixou praticamente sem habitat.

Desmatamento 

Se no início do processo de colonização a Mata de Araucárias ocupava 200 mil km do território nacional, a exploração da madeira para fins comerciais causou a destruição de maior parte dessa cobertura, e atualmente não resta mais do que 2% ou 3% desse total. E a maior parte dos remanescentes dessa vegetação exótica e de valor inestimável, se encontra no Paraná.

Desmatamento de Araucária na Rota dos Tropeiros . Foto Ivan Mendes Lobi Cicloturismo
Desmatamento de Araucária na Rota dos Tropeiros . Foto Ivan Mendes Lobi Cicloturismo

Área de Proteção Ambiental 

Mas apesar da criação de leis e decretos que colocam essas faixas remanescentes sob rígido controle ambiental, o comércio ilegal, que se beneficia não apenas da madeira leve e sem falhas  das araucárias, mas também da derrubada de outras árvores dessa floresta, como o cedro, imbuia e canela, insiste em continuar destruindo a deslumbrante paisagem, quase irreal, do Sul do Brasil. 

Ciclista pedala na Rota dos Tropeiros ao lado de uma solitária araucária.
Extinção de araucárias no Paraná. Foto: Ivan Mendes © Lobi Ciclotur

Degradação das araucárias na Rota dos Tropeiros

O comércio ilegal, ao ignorar as leis de preservação ambiental, ameaça não somente apagar uma  linda e única paisagem natural, considerada patrimônio da humanidade, devido a sua importância para o planeta, mas ameaça a sobrevida da raça humana na Terra, modificando o clima, poluindo a água e o ar… E ameaça apagar também uma parte da história e da cultura de um povo.

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Produção: Ivan Mendes | Texto: Marisol F.  © Lobi Ciclotur 

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